Jovem perde o intestino após bariátrica e busca transplante
Jéssica Pereira da Silva teve complicações de uma hérnia de Petersen cinco anos depois de procedimento de redução do estômago e agora luta pela vida
Jéssica Pereira da Silva perdeu intestino após cirurgia bariátrica (Jéssica Pereira da Silva/Arquivo pessoal)
Cinco anos após ser submetida a uma cirurgia bariátrica para redução do estômago, a vendedora Jéssica Pereira Nani Menegatti da Silva, de 28 anos e mãe de um bebê de 11 meses, agora luta pela vida. A jovem sofreu uma complicação tardia da operação chamada hérnia de Petersen, perdeu todo o intestino e agora depende de um transplante do órgão para sobreviver – procedimento raro, complexo e realizado poucas vezes no Brasil. O principal centro especializado na realização desse tipo de cirurgia fica em Miami, nos Estados Unidos, e o procedimento custa cerca de 3 milhões de reais.
Faz dois meses que a jovem está internada na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital de São Paulo. Em um período de 47 dias, passou por sete cirurgias, reagiu a um quadro de pneumonia e superou uma infecção generalizada. Por causa da ausência do intestino, Jéssica teve de fazer uma gastrotomia (abertura do estômago) para que uma sonda injete os nutrientes necessários para que ela possa sobreviver, fortalecer o organismo e ficar apta para o transplante.
“Depois da sétima cirurgia que ela fez, nenhum dos médicos consultados acreditava que minha filha sobreviveria. Eles eram unânimes em dizer que ninguém sobrevive sem intestino por muito tempo e que o caso dela era incompatível com a vida. Mas ela reagiu e está lutando dia após dia. É a mão de Deus agindo”, afirmou a empresária Alessandra Menegatti Hermann, de 44 anos, mãe de Jéssica.
Hérnia de Petersen
A hérnia de Petersen, também chamada de hérnia interna, é uma complicação relativamente comum que atinge de 6% a 10% das pessoas que se submetem a cirurgias abdominais. No caso da redução de estômago, o problema pode acontecer nas pessoas submetidas ao procedimento chamado bypass gástrico (técnica mais realizada no Brasil), pois parte do intestino é cortada e desviada.
Por causa desse desvio, alguns espaços na cavidade abdominal ficam “vazios” e são costurados para evitar que parte do intestino entre nessa região. O problema é que esses pontos podem romper com o passar do tempo e o intestino acaba entrando nesses buracos, provocando a hérnia. Se o caso não for rapidamente diagnosticado, a circulação sanguínea acaba interrompida, o que causa um estrangulamento do intestino e a necrose dos tecidos.
De acordo com dados de um estudo norueguês, 9,3% dos pacientes submetidos ao bypass gástrico tiveram hérnia interna num intervalo de um a nove anos após a cirurgia. Em outro estudo, os pesquisadores relataram que 4,7% dos pacientes tiveram a hérnia treze meses após a cirurgia.
Segundo Caetano Marchesini, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), o principal sintoma da hérnia interna é dor abdominal aguda, seguida de vômito após a ingestão de alimentos. Em geral, quando diagnosticada rapidamente, o paciente passa por uma nova cirurgia para retirada de uma pequena porção do intestino (cerca de 30 centímetros) que está necrosada e volta a ter uma vida normal.
Diagnóstico errado
No caso de Jéssica, no entanto, os médicos demoraram três dias para descobrir que ela estava com a hérnia de Petersen. A jovem deu entrada no hospital no dia 29 de junho gritando de dor e, por estar grávida de poucas semanas, não foi submetida a exames de imagem que seriam fundamentais para o diagnóstico correto. Foi medicada como se estivesse com pedras nos rins. Jéssica acabou perdendo o bebê em decorrência da gravidade de seu quadro.
“Ela ficou internada, a dor não passava e ela só vomitava. Até que um dia Jéssica estava praticamente cinza, de tão fraca. Fiz um escândalo, chamei a médica do plantão e disse que aquilo não podia ser uma simples pedra no rim. Quando eu avisei que minha filha tinha passado por uma cirurgia bariátrica anterior, a médica decidiu apalpar a barriga dela e chamou o cirurgião às pressas. Só então fizeram o diagnóstico”, conta Alessandra.
Foi o que salvou a vida de Jéssica. No entanto, esses três dias de tratamento errado fizeram a hérnia se agravar a ponto de o intestino da vendedora ficar praticamente todo comprometido: dos 9 metros de comprimento do órgão, os médicos tentaram manter pelo menos 70 centímetros em funcionamento, mas, em decorrência de várias outras complicações cirúrgicas, ela perdeu o órgão inteiro. “A hérnia interna nada mais é do que um infarto do intestino, que antigamente chamavam de nó nas tripas. Falta irrigação sanguínea e o órgão morre. Esse tipo de reação tão grave é muito raro”, afirma Marchesini.
Agora Jéssica está se reabilitando para ser incluída na fila do transplante de intestino que, até hoje, só foi realizado em dois hospitais no Brasil: Hospital das Clínicas de São Paulo e o Albert Einstein. A família criou uma vaquinha on-line para captação de recursos, caso a jovem precise fazer o procedimento no exterior.
Jéssica teria feito a redução de estômago de qualquer forma se soubesse desses riscos? “Certamente não”, diz a mãe, acrescentando que também não apoiaria a decisão da filha. “Ela pesava 130 quilos e mede 1,55 metro. Precisava emagrecer. Mas, se soubéssemos que o risco poderia chegar a esse ponto, com certeza teríamos tentado outras alternativas”, afirmou.
Fonte Veja
Jéssica Pereira da Silva perdeu intestino após cirurgia bariátrica (Jéssica Pereira da Silva/Arquivo pessoal)
Cinco anos após ser submetida a uma cirurgia bariátrica para redução do estômago, a vendedora Jéssica Pereira Nani Menegatti da Silva, de 28 anos e mãe de um bebê de 11 meses, agora luta pela vida. A jovem sofreu uma complicação tardia da operação chamada hérnia de Petersen, perdeu todo o intestino e agora depende de um transplante do órgão para sobreviver – procedimento raro, complexo e realizado poucas vezes no Brasil. O principal centro especializado na realização desse tipo de cirurgia fica em Miami, nos Estados Unidos, e o procedimento custa cerca de 3 milhões de reais.
Faz dois meses que a jovem está internada na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital de São Paulo. Em um período de 47 dias, passou por sete cirurgias, reagiu a um quadro de pneumonia e superou uma infecção generalizada. Por causa da ausência do intestino, Jéssica teve de fazer uma gastrotomia (abertura do estômago) para que uma sonda injete os nutrientes necessários para que ela possa sobreviver, fortalecer o organismo e ficar apta para o transplante.
“Depois da sétima cirurgia que ela fez, nenhum dos médicos consultados acreditava que minha filha sobreviveria. Eles eram unânimes em dizer que ninguém sobrevive sem intestino por muito tempo e que o caso dela era incompatível com a vida. Mas ela reagiu e está lutando dia após dia. É a mão de Deus agindo”, afirmou a empresária Alessandra Menegatti Hermann, de 44 anos, mãe de Jéssica.
Hérnia de Petersen
A hérnia de Petersen, também chamada de hérnia interna, é uma complicação relativamente comum que atinge de 6% a 10% das pessoas que se submetem a cirurgias abdominais. No caso da redução de estômago, o problema pode acontecer nas pessoas submetidas ao procedimento chamado bypass gástrico (técnica mais realizada no Brasil), pois parte do intestino é cortada e desviada.
Por causa desse desvio, alguns espaços na cavidade abdominal ficam “vazios” e são costurados para evitar que parte do intestino entre nessa região. O problema é que esses pontos podem romper com o passar do tempo e o intestino acaba entrando nesses buracos, provocando a hérnia. Se o caso não for rapidamente diagnosticado, a circulação sanguínea acaba interrompida, o que causa um estrangulamento do intestino e a necrose dos tecidos.
De acordo com dados de um estudo norueguês, 9,3% dos pacientes submetidos ao bypass gástrico tiveram hérnia interna num intervalo de um a nove anos após a cirurgia. Em outro estudo, os pesquisadores relataram que 4,7% dos pacientes tiveram a hérnia treze meses após a cirurgia.
Segundo Caetano Marchesini, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), o principal sintoma da hérnia interna é dor abdominal aguda, seguida de vômito após a ingestão de alimentos. Em geral, quando diagnosticada rapidamente, o paciente passa por uma nova cirurgia para retirada de uma pequena porção do intestino (cerca de 30 centímetros) que está necrosada e volta a ter uma vida normal.
Diagnóstico errado
No caso de Jéssica, no entanto, os médicos demoraram três dias para descobrir que ela estava com a hérnia de Petersen. A jovem deu entrada no hospital no dia 29 de junho gritando de dor e, por estar grávida de poucas semanas, não foi submetida a exames de imagem que seriam fundamentais para o diagnóstico correto. Foi medicada como se estivesse com pedras nos rins. Jéssica acabou perdendo o bebê em decorrência da gravidade de seu quadro.
“Ela ficou internada, a dor não passava e ela só vomitava. Até que um dia Jéssica estava praticamente cinza, de tão fraca. Fiz um escândalo, chamei a médica do plantão e disse que aquilo não podia ser uma simples pedra no rim. Quando eu avisei que minha filha tinha passado por uma cirurgia bariátrica anterior, a médica decidiu apalpar a barriga dela e chamou o cirurgião às pressas. Só então fizeram o diagnóstico”, conta Alessandra.
Foi o que salvou a vida de Jéssica. No entanto, esses três dias de tratamento errado fizeram a hérnia se agravar a ponto de o intestino da vendedora ficar praticamente todo comprometido: dos 9 metros de comprimento do órgão, os médicos tentaram manter pelo menos 70 centímetros em funcionamento, mas, em decorrência de várias outras complicações cirúrgicas, ela perdeu o órgão inteiro. “A hérnia interna nada mais é do que um infarto do intestino, que antigamente chamavam de nó nas tripas. Falta irrigação sanguínea e o órgão morre. Esse tipo de reação tão grave é muito raro”, afirma Marchesini.
Agora Jéssica está se reabilitando para ser incluída na fila do transplante de intestino que, até hoje, só foi realizado em dois hospitais no Brasil: Hospital das Clínicas de São Paulo e o Albert Einstein. A família criou uma vaquinha on-line para captação de recursos, caso a jovem precise fazer o procedimento no exterior.
Jéssica teria feito a redução de estômago de qualquer forma se soubesse desses riscos? “Certamente não”, diz a mãe, acrescentando que também não apoiaria a decisão da filha. “Ela pesava 130 quilos e mede 1,55 metro. Precisava emagrecer. Mas, se soubéssemos que o risco poderia chegar a esse ponto, com certeza teríamos tentado outras alternativas”, afirmou.
Fonte Veja
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