Independência ou Morte? O que você leu em livros de história pode não ser tão real assim


As dúvidas pairam sobre o quadro “O Grito do Ipiranga”, de Pedro Américo, que retrata o momento histórico – Reprodução

Datada de 7 de setembro de 1822, a Independência do Brasil foi um processo que se estendeu de 1821 a 1825 e foi proclamada pelo príncipe-regente D. Pedro I, que na época tinha apenas 23 anos. A forma mais comum apresentada à sociedade brasileira é de que ele, bem vestido com trajes da realeza e montado em um alazão (cavalo), gritou “Independência ou Morte” às margens do rio córrego Ipiranga.

No entanto, para alguns historiadores a realidade é outra, bem diferente do que é narrado nos livros de história brasileira. As dúvidas pairam sobre o quadro “O Grito do Ipiranga”, de Pedro Américo, que retrata e sustenta a realidade narrada ao longo dos anos sobre aquele momento.

A obra de arte foi considerada, por muitos, o retrato fiel da bravura de D.Pedro. Mas pesquisas mostram que os fatos pintados no quadro foram desmistificados por retratarem o ato de independência de um jeito muito mais bonito do que foi na realidade.
Um dos fatos mais sustentados é de que, ao invés de alazões, D. Pedro e seus companheiros estavam montados em jumentos. A hipótese era propícia para a ocasião, visto que o príncipe-regente fazia uma viagem bem longa, subindo a Serra do Mar, vindo de Santos, em São Paulo.

A historiadora Paula Dantas, de 26 anos, defende que pelas circunstâncias do ambiente e do percurso da viagem, provavelmente, Dom Pedro e seus soldados não estavam em cavalos e, sim, em burros – animal comum para aquele tipo de viagem naquela época. “Apesar de ser ou não cavalos, historiadores defendem que Dom Pedro não estava tão bem vestido como mostrar a pintura. Além disso, pela falta de hidratação, alguns defendem que ele estava com diarreia”, revela Paula.

Quanto as vestes, na obra “O Grito do Ipiranga”, D. Pedro aparece todo elegante, com casaco cheio de enfeites, acompanhado de soldados com uniformes da guarda real. Historiadores defendem que naquela época o calor era muito forte e, por isso, é muito improvável que eles estivessem vestidos de tal forma.

                  

Historiadores sustentam que D. Pedro e seus companheiros estavam montados em jumentos – Malika
Outro fato curioso é de que o príncipe não parou às margens do Ipiranga por considerar um lugar especial e bonito o suficiente para o marco de independência e, sim, porque na verdade estava com uma forte diarreia.

Para a historiadora, o ato em si não teve um planejamento prévio. “O que historiadores dizem é que ele estava em viagem, do Rio de Janeiro (RJ) a São Paulo (SP), onde visitaria uma das amantes dele, Domitila de Castro Canto e Mello – a marquesa de Santos – quando recebeu um bilhete pedindo que ele retornasse para o Rio de Janeiro. Aí ele tinha duas opções: acatar o pedido ou proclamar a independência”, informa.

Pauta reforça ainda que, com base nos estudos de historiadores, é possível compreender que, dadas as circunstâncias o retrato do “Grito do Ipiranga” pode não ter relação com a verdade dos fatos.

“Imagina você em 1822, fazendo uma viagem a cavalo do RJ para SP e em meio ao percurso acaba a água potável? A única maneira era parar próximo a um rio e se reidratar. Acreditamos que foi isso que aconteceu, ele recebeu a ordem que devia retornar para o RJ e, de imediato, decidiu proclamar as palavras ‘Independência ou Morte'”, comenta.
Segundo Paula, a pintura “O Grito do Ipiranga” foi encomendada pelo governo para fazer uma propaganda grandiosa sobre o marco. “A obra é para vender uma imagem de momento histórico e majestoso. O governo queria destacar o ato como uma das ações mais importantes daquela época e assim fizeram”, conclui.

A famosa “Casa do Grito”, um dos símbolos da Independência, pode não ter feito parte do cenário pintado por Pedro Américo em seu famoso quadro. O primeiro registro dessa construção é de 1884, bem depois da data da independência do Brasil.

As margens plácidas do córrego Ipiranga estão atualmente entre as mais poluídas da cidade de São Paulo (assim como as margens dos rios Tamanduateí e Tietê).

Isac Sharlon
EM TEMPO


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