Igreja para público LGBT+ discute religião sem preconceito no AM


Fundadores afirmam que local é refúgio para aqueles que resolveram sair da igreja tradicional. Reuniões e cultos são baseados em Teologia Inclusiva.
 Rafael (de costas) e Lukas fundaram o Ministério Inclusivo Avivar (Foto: Indiara Bessa/G1 AM)Rafael (de costas) e Lukas fundaram o Ministério Inclusivo Avivar (Foto: Indiara Bessa/G1 AM)

  Eu tenho certeza que se Jesus vivesse nos dias de hoje e falasse sobre cura, sobre o ato de curar, ele falaria que Deus cura a homofobia”. A frase é do pastor Lukas Paulo Maia, de 23 anos.

Ele comanda os cultos do recém-inaugurado Ministério Inclusivo Avivar, em Manaus. Como o nome sugere, a igreja prega a inclusão. Homossexuais são convidados a participar das celebrações, que têm a reinterpretação de passagens bíblicas que abordam a homoafetividade.

Denominada "igreja sem preconceitos", a Avivar tem apenas três semanas de criação e fica localizada em uma sala pequena no bairro Chapada, na Zona Centro-Sul de Manaus. Lá, Lukas e o companheiro, o também pastor Rafael Montebranco, de 33 anos, trabalham a Teologia Inclusiva, um ramo da Teologia tradicional que prega a inclusão de diversas categorias na Igreja, entre elas a comunidade LGBT+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros).

"O Senhor já tinha colocado no nosso coração essa vontade de abrirmos uma igreja evangélica inclusiva, para que pessoas que foram excluídas, que nem mais frequentam suas igrejas, tenham um lugar onde sejam aceitas e possam exercitar sua fé”, contou Rafael.

A dupla afirma que os evangelhos não têm palavras de ódio e nem margens para discursos de exclusão. "A nossa leitura bíblica é cristocêntrica e é isso que nós propagamos", disse Rafael. 

 Redes sociais atraem fiéis

Entre as pessoas que acompanham as celebrações, está o esteticista Fladson Duarte, de 21 anos. Ele conta que não encontrava "a sua verdade" em igrejas tradicionais.

"Eu vivia de máscara, porque não era a minha verdade. Eu sentia que eu não tinha que mudar, não era opção ser gay. Eu sou gay, amo a Deus acima de qualquer coisa e sentia que ele me amava também", disse Duarte.

Acompanhado do namorado, Duarte acredita que a existência de um ministério inclusivo é importante para o combate ao preconceito. "É muito revelador, é muito corajoso e eu acho muito importante, de verdade. É surpreendente, porque é diferente e pode mudar a vida de pessoas", completou o esteticista.

Ainda "engatinhando", a igreja em Manaus tem conseguido destaque por meio das redes sociais. Os pastores publicam vídeos e imagens que servem como extensão dos cultos, com explicações sobre passagens bíblicas. 

 Igreja usa redes sociais para divulgação (Foto: Reprodução/Instagram)Igreja usa redes sociais para divulgação (Foto: Reprodução/Instagram) 


Foi justamente por meio da internet que a empresária Karla Santos, de 29 anos, conheceu o ministério. Ela, que tem frequentado os cultos com a esposa, diz que se sentiu em casa logo que pisou no Avivar pela primeira vez.
Até então, ela conta que nunca havia se sentido à vontade em uma celebração religiosa. Segundo Karla, a igreja inclusiva não tem julgamentos e nem discriminação, "apenas a transmissão da palavra de Deus".
"Nem todas as igrejas te recebem de braços abertos, principalmente quando [se] sabe da sua orientação sexual. Inclusive, em outras congregações, elas pregam que o homossexual é condenado, é abominável aos olhos de Deus", disse Karla.

 Grupo se reúne em cultos e estudos da Bíblia (Foto: Indiara Bessa/G1 AM)Grupo se reúne em cultos e estudos da Bíblia (Foto: Indiara Bessa/G1 AM) 

 Teologia Inclusiva

Conforme a programação dos cultos, a Avivar reserva para o sábado a leitura da Bíblia baseada nos estudos da Teologia Inclusiva. Na atividade, são feitas as leituras de versículos que, segundo algumas igrejas, condenam as relações homoafetivas.
Segundo o pastor Rafael, os estudos em que são baseadas as releituras iniciaram na década de 1950, quando as ideias de inclusão na igreja começaram a ser propagadas. Uma das passagens lembradas pela dupla é a de Sodoma e Gomorra, do livro de Gênesis.
"[Esse trecho] é tido pela leitura tradicional como uma condenação a uma cidade que era composta por homossexuais e, por isso, o Senhor condenou à destruição. Na verdade, se você for ler a passagem e fazer o uso da boa hermenêutica, você vai entender que na verdade a história de Sodoma e Gomorra tem a ver com a inospitalidade de estrangeiros, tem a ver com estupro, tem a ver com idolatria, tem a ver com todo o tipo de comportamento que nós também abominamos", pontuou o pastor.

Recomeço

Rafael nasceu em um lar de ateus, enquanto Lukas cresceu em uma família de evangélicos. Para os dois, a revelação da homossexualidade foi difícil e a inserção na igreja ficava cada vez mais complicada.

“A Avivar é, para mim, o cumprimento de uma promessa que eu havia feito a Deus quando meus pais ficaram sabendo da minha homoafetividade. 
Os dias que se seguiram foram de trevas, foi a época que eu pensei em me matar, porque, de repente toda a minha família, todas as pessoas que eu amava estavam me rejeitando. Em um momento de oração com Deus, ele me revelou em espírito que eu iria ajudar outras pessoas que estavam passando por aquilo”, disse Rafael.

Após decidir sair da igreja que frequentava, Lukas contou que a Avivar é um recomeço, um retorno ao que ele chama de verdadeiro Evangelho.
“O cristianismo ele já acolhe todo mundo, ele não exclui ninguém, não faz distinção de ninguém. E ter uma igreja assim é, realmente, reviver esse evangelho. Eu sou muito abençoado, por isso que quando eu falo para as pessoas, quando eu vou lá pra frente eu falo com muita sinceridade, com muito amor porque isso me faz muito bem, isso me completa muito bem”, disse.

Em tempos em que as redes sociais acirram os discursos a cerca do tema, a Avivar surge com uma proposta de inclusão e respeito. Segundo o pastor Lukas, a proposta é que a igreja se consolide como um farol na vida de seus adeptos.

"Eu gosto sempre de comparar como um farol, que está ali para iluminar, sinalizar um lugar onde existe luz e geralmente remete a segurança. 
A gente vê uma sociedade em trevas com tantas conturbações aqui. Eu vejo nossa igreja como um grande farol, um lugar de refúgio. É o que eu sinto e espero que todos que passem por aquela porta se sintam também", afirmou o pastor Lukas. 

G1 Amazonas

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