Novo perfil do policial militar tem nível superior e maior preparação para mediação de conflitos
Mestre em engenharia civil pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ), Patrick Vieira, 29 anos, empunhava com orgulho a bandeira da Polícia Militar do Pará durante uma marcha no mês de janeiro.
Mas aquele não era um simples protocolo cumprido pela corporação. Patrick participava da primeira marcha administrativa de uma turma histórica da PM do Pará. Ele faz parte dos cerca de 2.400 policiais militares que estão em processo de formação por meio dos Cursos de Formação de Praças (CFP), de Oficiais (CFO), de Habilitação de Oficiais (CHO) e de Adaptação de Oficiais (CHO). Os alunos do Curso de Formação de Praças da PMPA ingressarão no serviço externo ao final do 2º módulo da formação, previsto para abril.
O edital de 2016 foi o primeiro a apresentar a exigência do nível superior aos aspirantes. E foi ali que o engenheiro resolveu realizar o sonho de criança e seguir o exemplo dos pais, que são militares.
Além dos conhecimentos técnicos na área de estrutura, o engenheiro tem experiência em outras áreas de atuação, como gerência e administração. “Com a mudança da lei, decidi fazer o concurso. E pretendo utilizar essas ferramentas dentro da polícia, na administração, para ajudar da melhor forma possível”, disse o aspirante à oficial.
Durante a caminhada, a Academia de Polícia Militar “Cel Fontoura” executou a primeira marcha administrativa para exercitar os pelotões do Curso de Formação de Oficiais (CFO) e do Curso de Adaptação de Oficiais da PMPA (CADO) nos deslocamentos a pé por longos percursos. A caminhada de 10 Km contou com a participação de 183 alunos da Academia de Polícia Militar. A iniciativa aproxima os alunos da realidade da profissão tanto em ambiente urbano quanto rural.
Maior capacitação
Josineia Martins, 34 anos, faz parte da corporação há quase 10 anos como praça. Em 2016, com o concurso para oficiais, ela, que é formada em Pedagogia pela Uepa, resolveu se inscrever. “Como já fazia parte da corporação, surgiu a chance de eu ascender profissionalmente com o concurso para oficiais. Agora, quero aproveitar meus conhecimentos na área de educação para ajudar a comunidade.
Quero atuar em um programa da Polícia Militar do Pará de combate ao tráfico junto às crianças”, disse a pedagoga.
A caminhada é parte integrante do currículo para os policiais do Curso de Formação de Oficiais, que integram a 1ª turma com exigência de Ensino Superior.
No CFO, os aspirantes ao oficialato recebem instruções de Direito Penal; Armamento, Munição e Tiro; Relações Interpessoais; Treinamento Físico Militar; Policiamento Tático; Gestão Estratégica; Estágio Supervisionado, dentre outras disciplinas, totalizando 7.065 horas/aulas ministradas ao longo de três anos de formação dos novos líderes, responsáveis pelos meios táticos e estratégicos de atuação da corporação.
O CFO é hoje uma graduação de ensino superior reconhecida pelo Conselho Estadual de Educação (CEE) e também pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC) como Bacharelado em “Ciências de Defesa Social e Cidadania”. “Devido a esse nível de escolaridade que passou a ser pré-exigido, nosso quadro é mais qualificado. Nossos homens vão prestar um serviço à comunidade de uma forma mais técnica e capacitada”, disse o capitão Glaudson Silva, subcomandante da Academia de Polícia.
Estatísticas
Entre os 157 alunos do CFO, 75% são do Pará e os demais se dividem entre os vários estados da Federação, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Bahia, etc. Com relação à Titulação Superior, exigência para a matrícula no curso, são 57 Bacharéis em Direito, 13 em Administração, cinco em Contabilidade, 48 em licenciaturas, 12 em engenharias e cinco historiadores. Dentre estes, um já possui Mestrado e há ainda outros 16 especialistas em diversas áreas.
Existem ainda 54 alunos que já eram militares estaduais da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, e outros quatro militares Federais que sonhavam em ser Oficiais da Policia Militar.
A marcha administrativa teve ainda a participação dos Oficiais Alunos do Curso de Adaptação de Oficiais, que nomeados 2º Tenentes no ato da matrícula na APM, cumprem as exigências de “adaptação” de oito meses de treinamento militar continuado e disciplinas de Direito Constitucional, Penal e Administrativo; além de Treinamento Físico Militar, Armamento Munição e Tiro, Sistema Nacional de Segurança, Policiamento Ostensivo Geral; além de outras 21 disciplinas que compõem as 1.212 horas-aulas do curso.
Curso de Formação de Praças
Em outubro de 2017 teve início o Curso de Formação de Praças (CFP). São 2.164 alunos policiais em formação para a atuação operacional. A duração do curso é de nove meses e a previsão é de que em agosto de 2018 esses novos profissionais já estarão nas ruas. A carga horária é de 1.660 horas/aula, divididas em três módulos.
Os novos policiais estão sendo formados em Belém, Conceição do Araguaia, Itaituba, Santarém, Marabá, Parauapebas, Castanhal, Santa Izabel do Pará, Tucuruí, Paragominas, Capanema, Bragança, Altamira, Barcarena, Soure e Breves. O novo curso traz uma grade mais completa, com a inclusão de três novas disciplinas: Deontologia Policial Militar, Patrulhamento Rural e Conduta Policial Defensiva.
A força feminina
O novo perfil dos policiais militares que se preparam para atuar no estado é marcado também pela presença massiva das mulheres. Os cargos de oficial e praça feminino foram os que apresentaram maior concorrência no último concurso. Oficial feminino teve 286,94 candidatas por vaga, e praça feminino teve 113,76 candidatas por vaga.
Quem conseguiu a aprovação agora colhe os frutos do esforço. Cristina Pantoja, 20 anos, sonhava em ser delegada, mas surgiu a chance do concurso para praça da PM do Pará. Filha de taxista, ela não tem policial na família, e iniciou o curso como uma despretensiosa oportunidade de conhecer a área.
Mas em pouco mais de um mês vivendo a rotina da preparação, tudo mudou. “Passei a me envolver fortemente com a PM, e me identifiquei por completo. Vi que a PM vai muito além do que tudo o que é falado e mudei meu destino.
Quero agora seguir a carreira de oficial. Essa vontade surgiu quando eu comecei a ver a atuação dos nossos comandantes, o amor que é repassado aqui dentro pela instituição. O lado humano do policial é muito rico e instigante, e isso me fascinou”, disse a aluna.
Cristina está entre as 117 alunas das 508 que estão em Belém. “Considero um avanço muito grande o interesse das mulheres. A policial feminina tem uma maior sensibilidade na mediação de um conflito, de um aconselhamento em situações de crise, e age com mais tranquilidade nas situações que envolvem cidadãs do sexo feminino.
A policial é essencial na abordagem a uma suspeita mulher”, destaca o Comandante do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças, tenente-coronel Marcelo de Siqueira.
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