Ortopedista alerta sobre atividade física.
Em tempos de
Jogos Olímpicos, muita gente se empolga com os esportes e quer começar a
se exercitar. Mas é preciso sempre tomar cuidados. O primeiro é sempre
procurar um especialista. É o que orienta Silvério Nunes Fonseca, 51
anos. Médico ortopedista e pós-graduando em Medicina Esportiva pela
Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE). Ele
afirma que, antes de praticar um exercício físico, é preciso estar
cercado de todas as informações que garantam que a atividade seja, de
fato, benéfica para quem pratica e não uma fonte de dores futuras. Por
isso, antes de pensar em ganhar uma medalha, saiba até onde o seu corpo
aguenta.
P: O que fazer antes de começar a praticar um esporte?
R: Toda pessoa que pretende ser atleta,
ou mesmo quem só busca a atividade recreativa, deveria fazer uma
avaliação clínica. Essa avaliação é multidisciplinar e inclui diversos
outros profissionais, como cardiologistas e fisiologista. Este, por
sinal, é um profissional difícil de se achar por aqui. Além, claro, de
ortopedistas para verificar se há alguma lesão articular e óssea, que
possa impedir esse ou aquele movimento ou atividade. A finalidade é uma
avaliação pré-competição ou pré-atividade, que é necessária que ocorra.
P: Qual a importância de se procurar um médico?
R: Antes de tudo, a Medicina Esportiva é
uma especialidade clínica, mas muito confundida, pela maioria da
população, com algo voltado somente ao trauma esportivo. Então a pessoa
só procura o ortopedista ou o traumatologista, em função de alguma
lesão. E o machucado, claro, só ocorre depois que a atividade física já
foi iniciada. A Medicina Esportiva está longe de dizer que a pessoa não
pode praticar algum determinado esporte, e sim o que é recomendado para
aquele momento, ou o que deve ser evitado. É dar condições para que uma
atividade física seja desenvolvida de forma que a pessoa possa ter o
máximo de aproveitamento. A gente sempre vai encontrar algum nicho de
atividades que a pessoa vai poder desenvolver, porque prejudicial mesmo é
a inércia, é o sedentarismo.
P: Qual o perfil dos pacientes hoje?
R: O perfil mudou. Hoje, as pessoas
estão mais ativas. Você vê grupos de corrida, de ciclistas pelas ruas.
As academias estão se multiplicando nos bairros. Isso provoca uma
mudança de conceito. Recebo pacientes encaminhados, normalmente, já com
algum trauma, mas também atendo a quem quer ser avaliado antes de
começar o exercício. A cultura do sedentarismo começa a se
modificar. Isso é muito positivo.
P: Como convencer um paciente de que aquele exercício que ele gosta não serve para ele?
R: O objetivo da atividade é o
benefício, e não o dano. Então, se naquele momento ele não pode fazer um
trabalho funcional, algo de maior impacto, não significa uma sentença.
Dou sempre um exemplo, citando maratonistas, que, com o avanço da idade,
começam a se queixar de dores no joelho, quando chegam na metade do
percurso. Se o objetivo é correr e começa a doer a partir dos 21 km, por
que não se tornar um grande meio maratonista em vez de insistir nos 42
km? Quem sabe se daí não sai um campeão dos 10 mil metros? Não é melhor
isso do que insistir na dor e de repente até ter de parar?. Já lido com
alguns casos de pessoas que se readaptaram para não deixarem de fazer o
que gostam.
P: Estamos vivendo os Jogos Olímpicos do
Rio de Janeiro e as pessoas costumam se empolgar com os esportes
mostrados. A rotina dos atletas é diferente das pessoas comuns?
R: Todo esporte tem uma particularidade.
Não há como generalizar. Não é receita de bolo. Temos uma base, que é a
condição cardiorrespiratória e o reforço muscular. Isso está presente
em todas as categorias. Mas tem algo que chamamos de gesto esportivo e
envolve o músculo usado exatamente para a articulação que eu
sobrecarrego. Em uma corrida de 100 metros, por exemplo, preciso de
resposta rápida do músculo, de explosão. Se for de dez mil metros,
preciso de resistência. Os trabalhos podem ser diferentes até mesmo
dentro de uma mesma modalidade. No futebol, o zagueiro tem uma exigência
muscular diferente do lateral, do goleiro. Tudo isso tem de ser
observado.
P: Procurar um médico antes de praticar esporte é obrigatório?
R: Correto é procurar antes, sempre.
Aqui, em Belém, algumas competições já exigem previamente a avaliação
médica, sem a qual o atleta não é registrado. Mesmo academias já estão
pedindo isso também. Não deixa de ser, inclusive, uma medida de
segurança. Os clubes de esporte aqui já adotaram isso. A principal ideia
é de que a orientação desse profissional garante a atividade saudável.
P: O acompanhamento deve ser feito com que frequência?
R: O fato de identificar algo que impeça
essa ou aquela atividade não é uma coisa necessariamente negativa. Com
certeza o profissional vai encontrar algum tipo de prática que o
paciente possa exercer à carga plena. E com o tempo isso pode mudar, por
isso a importância do acompanhamento. A atividade física pode
desencadear lesões, sempre, como qualquer outra. A atividade repetitiva
feita de forma errada pode provocar dores e o gesto esportivo praticado
de forma errada pode sobrecarregar a coluna cervical, por exemplo.
P: Como está a Medicina Esportiva hoje?
R: Como especialidade global, com visão
ampla de cardiologia, pneumologia, fisiologia, treinamento, do trauma, é
nova. Antes só se pensava no trauma. O conhecimento global do assunto
se difunde de 6 anos para cá, quando começam a surgir as primeiras
turmas de especialização no tema e o primeiro núcleo brasileiro de
residência médica em Medicina Esportiva. É uma denominação de
especialidade nova para uma prática que já se tem há muito tempo. A
Sociedade de Medicina Esportiva já acumula muitos anos de profissionais
em atuação.
P: E você, como começou nessa área?
R: Sou ortopedista e médico do Paysandu
há 15 anos e já milito nessa área há bastante tempo. Mas é claro que é
importante ter esse conhecimento de cardiologia e de fisiologia, até
para, em caso de um problema mais sério, eu saber para quem encaminhar.
Posso dizer que é uma especialidade de caráter multiclínico. Eu não
tenho apenas um profissional abrangendo tudo sempre, mas conto com o
conhecimento de vários profissionais. Hoje não se pode pensar em um
departamento de saúde, por exemplo, sem psicólogo, médico,
nutricionista, etc. Funciona da mesma forma na Medicina Esportiva.
(Carolina Menezes/Diário do Pará)
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