Artistas contam como seus filhos são inspiração
Como homens, artistas e pais, eles
encontraram em sua própria arte uma forma de demonstrar o amor que
sentem diante da experiência da paternidade. Foi assim com o cartunista
Mauricio de Sousa, o pai de toda uma turminha, com o escritor paraense
Caco Ishak e a suas dedicatórias à Malu, e o artista plástico,
ilustrador e designer gráfico paulista, Pedro Menezes, que acaba de
lançar o livro “Caderno de Observação de um Filho”, a partir dos
primeiros meses do pequeno João.
“Acredito que essa minha inspiração em
filhos, amigos e lembranças da minha infância para desenvolver
personagens foi uma das razões do sucesso da Turminha. De alguma forma,
os leitores sabem que minhas histórias não são apenas criações, mas um
espelho do que vivemos no dia a dia. A Mônica, todo mundo sabe, é minha
filha. Assim como a Magali, a Maria Cebolinha, o Nimbus, o Do Contra, a
Marina, o Professor Spada, as gêmeas Vanda e Valéria, além do
Marcelinho”, orgulha-se Mauricio.
Caco, que também acabou tornando a filha
muito presente em seu trabalho como escritor e poeta, traz no livro “Não
Precisa Dizer Eu Também” a dedicatória: “Ao sorriso de Malu”. Quando
foi chamado para participar do livro “Vou Te Contar”, uma homenagem ao
Tom Jobim, lançado nacionalmente pela editora Rocco, escolheu a canção
“Samba de Maria Luiza”, do carioca, como base para sua escrita, porque
sua filha também se chama assim. E diante da distância da menina, que
hoje mora com a mãe, isso se refletiu ainda mais.
“Tudo o que eu escrevo é voltado para minha
filha. Uma forma de compensar os diálogos que não tivemos ao longo dos
últimos anos, dos anos por vir, a contragosto de ambos. Há certas coisas
que eu preciso dizer à minha filha, vivências que só um pai pode
transmitir. A literatura sempre foi a melhor maneira de garantir essa
conversa. E, dadas as atuais circunstâncias, a literatura acabou se
mostrando a única. Como sempre digo: posteridade pra mim é minha filha”
Hoje, Maria Luiza, ou Malu, está com 11
anos, e Caco afirma que a literatura deixada por ele será uma forma de
ela conhecê-lo melhor. “Espero ter a chance de conversar com ela
pessoalmente, na verdade. A literatura é só uma forma de assegurar isso,
caso contrário. Não faço ideia de como ela reagirá (com as homenagens).
Sei que, ao fechar o livro, vai conhecer bem mais o pai dela. E, em
consequência, bem mais a si própria. É o que vale, no fim das contas.
Autoconhecimento”.
Das boas lembranças da filha ainda
pequenina, está o fato de que ela adorava o filme “Labirinto”, com David
Bowie. “O filme acabou levando à música, a essa paixonite precoce,
obviamente compartilhada pelos dois. Belo dia, apareceu com esse
desenho, hoje emoldurado na parede de casa”, conta Caco mostrando o
desenho do cantor com seu cabelo vermelho e um raio de mesma cor pintado
no rosto. Na folha, a assinatura da filha, ao lado de um coração.
No caso de Pedro Menezes, é o inverso. Ele é
quem decidiu deixar desenhos para o filho. Foi a forma mais
interessante que o artista plástico encontrou de acompanhar o
crescimento de João. “Antes de surgir o livro, já tinham surgido os
desenhos. Junto com desenhos acabei escrevendo textos pontuais. E em
algum momento entendi que funcionaria como um livro”, explica. O livro
acompanha os seis primeiros meses do filho, que hoje está com um ano e
três meses.
Diferente das expectativas de Caco, que
aguarda pelo sentimentalismo feminino de Malu, Pedro deixa em aberto a
possível reação do filho quando estiver mais velho. “Eu espero que ele
receba (o livro) como uma declaração de amor mesmo. Espero que venda
bastante, porque vai que naquela fase adolescente, ele negue, fique
envergonhado, diga ‘pô pai, você me expôs’”, brinca Pedro. Nos pequenos
textos do livro, o autor descreve com sensibilidade e carinho as
descobertas dele e as do filho sobre a vida.
Afinal, além da inspiração, o aprendizado é o
que eles garantem trazer de melhor dessa relação. “Aprendi a ter
paciência, acima de tudo. Desde os 42 primeiros dias de vida dela (tempo
que Malu passou em coma na UTI logo depois de ter nascido)”, diz Caco.
Já Mauricio, pai de muitos filhos, diz que “com a paternidade
diversificada, (aprendeu) como dividir o amor de pai em partes iguais e
suficientes”. E essa aprendizagem nunca acaba, garante Pedro: “Todos os
dias, aprendo a ser pai. E isso é muito rico. Eu sinto que estou virando
uma pessoa melhor”.
(Diário do Pará)
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